Sim. Isso mesmo, um funcionário com dívidas pessoais gera prejuízo para a empresa por diversas razões. Desde distrações até graves acidentes de trabalho são causados por trabalhadores que estão preocupados se vão conseguir pagar a escola do filho, se a luz vai ser cortada, se vão ser despejados ou se vão conseguir pagar o supermercado.
Embora as pesquisas não cheguem a um consenso, quer dizer, existem divergências nos resultados levantados pelos estudos, podemos pensar que a situação está bem complicada dentro das empresas, ainda que muitas nem percebam. Segundo a PwC (Price Waterhouse Coopers) 50% dos trabalhadores gastam ao menos 3 horas por semana cuidando de questões financeiras pessoais durante o expediente.
Vamos analisar mais alguns dados?
Quando olhamos de forma mais ampla percebemos que o cenário é alarmante e infelizmente não somos feitos de números. O que isso quer dizer? Significa que os números não mostram o que de fato acontece. Na prática, os trabalhadores estão dentro das empresas com a cabeça muito ocupada tentando achar alternativas para quitar suas dívidas. Enquanto estão operando a máquina no chão de fábrica falam com o colega ao lado para ver como vão pagar o aluguel. Significa que enquanto estão atendendo uma cliente indecisa na compra do par de sapatos, estão preocupados com a conta de água, significa que enquanto ajudam um cliente a investir milhares de reais estão lutando para pagar a escola do filho.
Em sã consciência, podemos imaginar que quem está com problemas financeiros vai trabalhar bem, por mais que se esforce? Claro que a maioria, mesmo com problemas, vai tentar ao máximo “deixar os problemas fora das empresas”, mas distrações, presenteísmo, equívocos e até burnout são gerados e impactam essas mesmas empresas.
Então a saída é demitir funcionário com problema financeiro pessoal? Caso algum gestor opte por essa alternativa, vai ter que demitir 70% dos colaboradores. Mas afinal, qual é a saída? Capacitar, educar e “ensinar a pescar”. Infelizmente não fomos preparados na escola ou nas famílias para fazermos planejamento financeiro pessoal e se a empresa quer qualificar sua mão de obra vai ter que passar inevitavelmente pelo treinamento de finanças comportamentais ou educação psicofinanceira.
A educação sempre é um diferencial competitivo e por que reforço isso? Porque por mais de 15 anos atuando desde o chão de fábrica até o staff das empresas acompanhei histórias inacreditáveis de pessoas endividadas “acima de qualquer suspeita”. Os malabarismos para esconder a realidade financeira, a vergonha e o desgaste emocional que os funcionários passam podem ser mitigados com ações educativas que além de serem estratégicas para que as empresas aumentem o lucro, ainda cumprem uma função social de ajudar aos trabalhadores e as famílias dos brasileiros.
E para quem ainda acha que é caro um treinamento em educação psicofinanceira para sua empresa, calcule quanto custa mensalmente 12 horas “desperdiçadas” por 50% dos seus funcionários.
E para concluir fica uma questão importantíssima, não seria mais preventivo, inteligente e até mesmo produtivo se as crianças pudessem receber a essência da educação financeira também nas escolas? Muito mais que contas e planilhas o propósito é aprender a fazer escolhas, tolerar a frustração em não ter algo, organizar mesmo que seja pouco e saber que os sonhos podem ser realizados com planejamento e foco. Não seria fundamental que independente da classe social e do tamanho do bolso as crianças tivessem a oportunidade de construir um pensamento crítico diante das armadilhas de consumo e que fossem introduzidas na lógica da prosperidade? Assim, haveria uma grande probabilidade de termos adolescentes aptos a gerarem renda rompendo com um ciclo de pobreza e como efeito colateral, os adultos estariam mais preparados inclusive dentro das empresas.
Sim…sei que existe lei e iniciativas levando educação financeira nas escolas, mas por que ainda é um assunto polêmico e negligenciado?
Márcia Tolotti
CEO na Márcia Tolotti Consultoria Psicofinanceira
Artigo – Conselho da Empresária da CIC Caxias