Artigo | Dagoberto Lima Godoy*
São tantos os alertas sobre os riscos ligados à Inteligência Artificial (IA), incluindo até ameaça de extinção da raça humana (!!!), que passei a me preocupar de verdade.
Por um lado, os alertas podem não ser diferentes daqueles causados pelo impacto dos grandes inventos, como, por exemplo, a violenta reação dos ludistas contra as máquinas, durante a Revolução Industrial. O emprego da eletricidade, da telefonia e até do automóvel e do avião geraram temores, assim como a internet e a robotização continuam sendo vistas com estranheza por muitos, embora os inegáveis benefícios que trouxeram, amplamente superiores a eventuais malefícios por usos desvirtuados.
Por outro lado, os receios quanto ao uso da energia nuclear nunca deixaram de estar presentes e válidos, desde desastres como Hiroshima, Nagasaki ou Chernobyl, e não há como negar que há conteúdo e seriedade nos alertas sobre os riscos ambientais.
As visões sobre a IA também têm dois extremados pontos de vista. Há aqueles que temem a possibilidade da IA, além de agravar a ameaça do desemprego de milhões, vir a se tornar descontrolada e superar o controle humano, num grande risco para a humanidade; mas, há outros que acreditam que ela acelerará avanços científicos, inovação e consequente melhoria da qualidade de vida.
Confessando estar mais próximo da expectativa otimista, considero dúvidas levantadas por gente versada na tecnologia da IA, a saber: a) desinformação – os algoritmos utilizados em plataformas de mídia social têm produzido conteúdos extremados, sem compromisso com precisão e veracidade, chegando até ao assim chamado “deep fake”; b) tendenciosidade – os modelos de IA tendem a ser treinados a partir de dados tendenciosos, o que pode alimentar posições facciosas e discriminatórias; c) erosão da privacidade – plataformas de IA necessitam de volumes gigantescos de dados, buscados na internet ou comprados, invadindo privacidades (inclusive a sua, prezado leitor).
Enfim, está claro que a discussão em torno da IA deve levar em conta esses alertas e tantos mais envolvendo questões éticas, legais, sociais e econômicas, se quisermos fazer dela um benefício e não uma grave ameaça. Acontece que, sob esse rótulo, a ONU está anunciando a criação de um órgão de vigilância da IA (?) e a União Europeia está forjando uma regulamentação que tenderá a ser um modelo para outros países. Mais um avanço na escalada dos governos contra as liberdades individuais.
*Membro do Conselho Superior da CIC Caxias
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